Sonoplastia/Desenho de Som para teatro
Esta adaptação para vídeo do espectáculo encenado por Ricardo Pais – um dos melhores da sua longa carreira – é fiel às linhas motrizes do espectáculo e acentua o trabalho sobre a palavra que a sua dinâmica teatral faz operar. Sublinha ainda as notáveis composições de Maria de Medeiros, em Inês de Castro, e de João Pedro Vaz, no papel do infante D. Pedro – e, só por isto, valeria a recomendação. […] A sintonia da realização em relação ao que está em jogo no drama é uma constante do vídeo e uma marca de inteligência. Se o espectáculo era por si mesmo um esplendor, este vídeo é um documento a não perder.
António Cabrita – Caderno Portogofone 04, TNSJ, 2004
Entramos num espetáculo em que oscilamos permanentemente entre perversas adolescentes saídas de um quadro de Balthus (e que levam as saias à cabeça para nelas esconderem o pudor que lhes esconde o olhar) e um bando de cónegos, megeras e assassinos que acabaram de sair de um texto de Jean Genet. Lentamente, aceleradamente, a faca retalha as palavras e a cena roda no círculo louco dos seus fantasmas. A sensação que nos prende é a de que a inteligência nos vai tornando mais leves e generosos. Mas Ricardo Pais não perde nunca aquilo que é a sua marca de encenador: esta euforia de se dançar um último tango à beira de um vertiginoso precipício.
Eduardo Prado Coelho – Público (6 Abril 1998)
Depois de ter assegurado a realização de As Lições (com Fabio Iaquone, 1998), D. João (com Paulo Américo, 2005) e UBUs (2005), o fotógrafo e cineasta João Tuna assina agora a versão vídeo de Todos os que Falam, espectáculo encenado em 2006 por Nuno Carinhas, a partir da compilação em cena de quatro “dramatículos” de Samuel Beckett. Fiel às linhas motrizes do espectáculo e acentuando o trabalho sobre a palavra que a sua dinâmica teatral faz operar, João Tuna não se limita aqui a um mero labor de transcrição e reprodução da matéria cénica, potenciado antes ideias fortes da encenação, ao ponto de nos fazer acreditar que nestas imagens é possível – parafraseando Santo Agostinho – ouvir a linguagem e ver o pensamento.
Expoente máximo de uma geração culta de encenadores europeus capazes de conjugar profundidade de análise e verdadeira exigência de inovação, Ricardo Pais apresenta-nos um trabalho original, simples e altamente teatral. […] Com resultados dignos de encómios: basta considerar a bela actuação de Pedro Almendra/D. João e Hugo Torres/Esganarelo. Laura Novelli – Il Giornale (24Fevereiro2007) É uma máquina de prazer retórico aquela que está em cena no Teatro Argentina, com o irreverente, amoral e euforicamente desesperado D. João, de Molière, segundo a encenação do português Ricardo Pais. […] A sua irreverência conceptual, operativa e linguística corresponde à irreverência já experimentada por Ricardo Pais no UBUs que vimos em Roma na temporada anterior.
Rodolfo Di Giammarco – La Repubblica (24 Fevereiro 2007)
Sondai-me! Sondheim!
A Musical Review from songs by Stephen Sondheim.
The only thing that can really interest us about the Musical is a few choice songs, particularly those known as the songs of circumstance and conflict, of which Stephen Sondheim is a particularly commendable author. What would happen if we crossed those songs, freely translated, with the some of the best examples from the Portuguese repertoire? With those words and music, could we create a show that would avoid falling into the crippling reactionary idiosyncrasies of Broadway?
Linha Curva, Linha Turva (Curved Line, Cloudy Line)
(The actores sing!)
Any songs, music-hall songs, simply songs – the actors will sing, in an apprenticeship for other musical-theatrical adventures.
Com UBUs, estamos no domínio mais potencialmente sedutor dos procedimentos cénicos de Ricardo Pais, em que a cena se abre generosamente aos contributos das outras artes e linguagens, propiciando uma espécie de vertigem ou de “voracidade” onde uma procurada libertinagem se combina com um não menos obsessivo rigor e seriedade. Mais do que um conjunto de ideias engraçadas, ou de trouvailles, eventualmente ao serviço de um qualquer complacente, por muito profissional, exercício de estilo, o que esta arriscada estratégia cénica propicia, nomeadamente neste caso, é uma espécie de corporização dos próprios desafios e convites passíveis de serem lidos no projecto dramatúrgico de Jarry: uma espécie de renovação da utopia de um teatro que entende a criação como um processo em que se fundem a mais ousada irrisão com a mais empenhada das vontades de comunicar.
Paulo Eduardo Carvalho – Guida alla Lettura di UBUs, 2005