A sonoplastia e o teatro contemporâneo

Com o desenvolvimento tecnológico da década de 70, os efeitos sonoros mecânicos em teatro foram suplantados pela tecnologia de registos sonoros e dos sistemas de amplificação e difusão de som, tornando-se, com o decorrer do tempo, numa área cada vez mais especializada.

Atualmente, o sonoplasta em teatro é um dos elementos da equipa criativa, assim como o cenógrafo, o figurinista, e o desenhador de luz, que trabalhando com o encenador, busca o conceito de uma banda de som consistente e coesa com as outras áreas de criação, explorando as possibilidades expressivas do som, fornecendo uma realidade física, real ou imaginária, um mundo lógico e coerente.

A sonoplastia em teatro trata-se, pois, da construção dramatúrgica da banda de som para acompanhamento da narrativa. Refere todo o trabalho de som efectuado para essa criação, até à implementação da sua difusão.

O trabalho de sonoplastia pode ser feito em conjugação com um compositor ou, noutros casos, com música extraída de outras fontes. No caso de não haver composição de música original, a atividade do sonoplasta poderá requerer a pesquisa de música. Desta forma, a escolha de música que se adeque ao ambiente da peça, é uma das tarefas do processo colaborativo da sonoplastia. Não só a música que ocorre no plano da ação, diegética, mas também aquela que acentua o sentido dramático, explorando a leitura da emocionalidade da cena perante o público, a música incidental.

Assim, a sonoplastia pode compreender o processo de pesquisa, seleção de música pré-gravada, a criação de paisagens sonoras, efeitos sonoros, e a produção de ambientes musicais. Inclui a atividade de gravação de voz, de música, gravações de campo (field recording), ou ambiente, a de edição de som, de música e ambientes, adaptados à duração e dinâmica da ação, o processamento áudio de efeitos, através de filtragem, da adição de reverberação, dinâmico, etc., e a mistura de diferentes elementos sonoros.

Por fim, na implementação com o próprio espectáculo implica, também, a respetiva reprodução e operacionalidade, com a atribuição dos momentos de intervenção na narrativa, as deixas de início e fim dos eventos sonoros, e respetivo estabelecimento de níveis, resultando no guião de som, segundo o qual o operador de som, autonomamente, se regulará para o acompanhamento de ensaios e espetáculos.

A importância do som numa obra teatral é aquela que fizer sentido para a encenação. Um texto pode ser visto de diferentes formas. Histórico e formal, ou atualizado e provocador. A sonoplastia, como elemento de comunicação, tem um discurso que pode ser paralelo, acompanhando o enredo, ou pode ter um papel ativo, intervindo no próprio enredo como mais uma personagem.

As opções tomadas pelo sonoplasta devem ser coerentes com o conceito do próprio espetáculo, pois o teatro é o resultado do encontro de diferentes áreas. Nasce no texto e na leitura que o encenador faz dele. Todas as outras áreas que intervêm, a interpretação dos atores, o cenário, figurinos, o desenho de luz, a música e a sonoplastia, devem estar relacionados entre si, criando uma coerência. Só assim o espetáculo pode suceder como tal, nessa total integração do texto que vive no palco. (Leal, 2022)

Na sonoplastia o registo sonoro, nas suas variadíssimas formas e meios, é a ferramenta e, simultaneamente, o produto final “desenhado”.

Subsiste, no entanto, uma certa confusão na utilização do termo, associando o sonoplasta ao operador de som, segundo uma prática arcaica e conservadora no meio teatral.

O técnico de som é o membro do departamento de som que faz a instalação do sistema de som e dá apoio durante os ensaios e espetáculos. Poderá igualmente ser operador de som, efetuando o controlo de som durante os ensaios e espetáculos, o que, para além dos conhecimentos técnicos, requer uma sensibilidade teatral e perícia musical, podendo interpretar uma “partitura” inscrita no guião, de maior ou menor exigência, com tempos de resposta a “deixas”, execução de movimentos dinâmicos de crescendo e diminuendo, fazendo a banda de som integrar-se no espetáculo, sendo discreta ou impositiva.